A Casa do Migrante, serviço mantido pela Prefeitura de Corumbá por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, tornou-se uma das principais portas de entrada e acolhimento humanitário para estrangeiros que chegam ao Brasil pela fronteira com a Bolívia. O local, que funciona na rua Dom Aquino, n° 884, oferece abrigo, alimentação, orientações sobre documentação e encaminhamentos sociais a centenas de pessoas que atravessam o limite internacional em busca de refúgio, trabalho ou recomeço.

“A função da Casa é gigantesca. Fazemos o acolhimento e oferecemos toda a orientação necessária para que o migrante siga viagem com segurança ou possa permanecer em Corumbá com dignidade”, afirma o coordenador Iber Mosciaro Gomes. O espaço atua com estrutura de alojamento, três refeições diárias e suporte para regularização de documentos e deslocamento.

Segundo Gomes, a chegada dos migrantes ocorre de diferentes formas. Alguns ingressam no país de maneira regular, passando pela Polícia Federal, enquanto outros vêm diretamente à Casa, que já é conhecida internacionalmente. “Muitos já sabem da existência da Casa antes mesmo de chegar. Recebemos pessoas que vêm com nomes e contatos anotados, indicando que o serviço é referência entre comunidades migrantes”, explica.

A psicóloga Gislaine Melise Aguiar da Conceição, integrante da equipe técnica, destaca que o WhatsApp é hoje um dos principais meios de comunicação entre os estrangeiros. “Eles se organizam em grupos e compartilham informações sobre onde podem encontrar abrigo e orientação. Muitos chegam sem documentação regular e procuram aqui o primeiro apoio para entender como se regularizar”, diz.

O atendimento inclui explicações sobre os procedimentos exigidos pela Polícia Federal, como pedido de residência, refúgio ou autorização de permanência temporária. Em casos específicos, o migrante é orientado a registrar boletim de ocorrência, que pode garantir um prazo de até 60 dias para regularização. “Países como Venezuela e Haiti têm acordos humanitários que facilitam o processo. Já em casos de colombianos, por exemplo, é necessário retornar à origem para regularizar os documentos antes de entrar no Brasil”, explica Gislaine.

A Casa mantém acolhimento prioritário para famílias com crianças, enquanto pessoas sozinhas são encaminhadas à Casa de Passagem, localizada na rua Edu Rocha. O fluxo de atendimento é constante e variável: há dias em que o abrigo chega a receber trinta pessoas, em outros, dez. “As famílias vêm e vão conforme resolvem suas situações. Algumas permanecem por uma semana, outras por mais de um mês, dependendo da documentação e das condições financeiras”, informa o coordenador.

Os principais destinos dos migrantes são os estados do Sudeste e cidades como Campo Grande e Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde há uma comunidade venezuelana organizada, por exemplo. Também cresce o número de colombianos e de pessoas deportadas dos Estados Unidos que reingressam na América do Sul pelo território boliviano, fenômeno recente observado pela equipe.

Entre as histórias de superação, destaca-se a do casal venezuelano Yosbelys Leal, contadora, e José Vicente Herrera, motorista de máquinas pesadas, que chegou a Corumbá com a filha de 11 anos após percorrer a pé parte do trajeto até o Brasil. “Graças a eles, pelo atendimento que nos deram, temos trabalho e moradia. A vinda ao Brasil é a esperança de melhorar”, relatou Yosbelys.

Desde janeiro, cerca de 1.700 migrantes passaram pela Casa do Migrante, segundo estimativa da coordenação. A instituição mantém parcerias com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a Defensoria Pública da União, a Polícia Federal, Pastoral do Migrante e a Organização Internacional para as Migrações, entre outros órgãos e entidades.

O espaço atual funciona 24 horas por dia, com equipe de 13 profissionais, entre técnicos, cuidadores, cozinheiro, motorista e equipe administrativa. Em breve, o serviço contará uma nova sede. O projeto será financiado por duas fontes: uma emenda parlamentar da deputada Camila Jara, no valor de R$ 1,6 milhão (reforma e ampliação), e um repasse de R$ 800 mil do governo federal destinado a equipar com mobiliário.

A nova Casa do Migrante será instalada em imóvel próprio da Prefeitura localizado entre as ruas Dom Pedro II, 21 de Setembro e Luís Feitosa Rodrigues, e deve oferecer estrutura ampliada e adequada para acolher famílias e crianças. “Estamos otimistas. A nova casa representa um avanço fundamental na política de acolhimento em Corumbá”, diz Iber Gomes.

Mais do que um abrigo, a Casa do Migrante se consolidou como espaço de solidariedade e reconstrução. “Cada pessoa que passa por aqui traz uma história de coragem e esperança. Nosso trabalho é garantir que esse recomeço seja feito com dignidade”, resume a psicóloga Gislaine.